sábado, 19 de junho de 2010


Paris-Louvre


Ándréa e Dilson
Piza-Italia-maio de 2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Apresentação

Sinto sempre a intensa necessidade de ver, visualizar, sentir, me deparar, imaginar...
Assim, sempre que me falam de alguém ou algo, sempre que leio uma crônica, uma poesia, romance, um fragmento qualquer, imagino quem escreveu, quem sentiu, quem falou, quem fez isto ou aquilo, ou seja, tento, a todo custo, que minha mente viaje para encontrá-los e se a expressão me esclareceria algo, me daria uma pista.
Imagino como seriam os traços, trejeitos, gestos e por um instante tento apreender o olhar...
Por isto, sou apaixonada por imagens e fotografias, estáticas ou em movimento, como nas filmagens.
E, sendo assim, não poderia ter iniciado este espaço de forma diferente, as fotos e imagens estão aí, indagando, sorrindo, chorando se mostrando, enfim, dando a “cara” para bater .
Teriam que ser mulheres,teriam que buscar a liberdade , teriam que seduzir, que exercer um poder, e teriam que me encantar.
Olhando-as, penso como são diferentes, mas olhando mais de perto penso... Como são iguais na busca, na luta , no grito que deram ao mundo.
Como são intensas, como são perfeitas em suas imperfeições.
Todas, de uma forma ou de outra, me tocaram, me encantaram, me encontraram e me fizeram mergulhar em busca de mim mesma...
Todos os dias ao ler o que foi por elas deixado, suas marcas e impressões, me perco e me acho, mas quando me encontro sempre me sinto melhor, mais eu, mais mulher , mais dona de meu mundo.
Um dia fui Simone, noutro Florbela, logo depois Clarice e de repente Safo e acabei me deparando com Virgínia, mas hoje sou Andréa lendo-as e aprendendo todos os dias com estas senhoras, meninas, donas de si, mas perdidas no mundo.
Assim, as apresento: Simone de Beauvoir, Florbela Espanca, Clarice Linspector,Safo e Virgínia Woolf que me abriram as portas de um mundo cujas descobertas não tem fim , portas que não quero fechar , mas quero vez por outra olhar para trás, para saber de onde vim...

domingo, 13 de junho de 2010

E por falar em Holocausto e o covarde ataque à ajuda humanitária...

Recordamos de um trecho escrito por Clarice Linspector, considerado por muitos como fragmento autobiográfico , que poderá adequar-se a vítimas de atrocidades , como a que dizimara milhares de judeus na Croácia,época do nascimento de Clarice que lá teria suas origens, embora insistisse ela em afirmar sua brasilidade a todo tempo e seu apego notadamente ao Recife:

“O filho está de noite com dor de fome e diz para a mãe: estou com fome, mamãe. Ela responde com doçura: dorme. Ele diz: mas estou com fome, ela insiste: durma. Ele diz: não posso, estou com fome. Ela repete exasperada: durma. Ele insiste. Ela grita com dor: durma, seu chato! Os dois ficam em silêncio no escuro, imóveis. Será que ele está dormindo? – Pensa ela toda acordada. E ele está amedrontado demais para se queixar. Na noite negra os dois estão despertos. Até que dor e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. E eu não agüento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta” Clarice Linspector “ As Crianças Chatas “ – 19 de agosto de 1967.

Davi e Golias-Comentário da Semana

O comentário se dera na Revista -Isto É( por Leonardo Attuch), em razão ao ataque Israelense a embarcação humanitária que levava auxílio básico a uma população confinada e submetida a um humilhante bloqueio econômico e refere-se, inquestionavelmente, a Poder e Liberdade.

“O oprimido de ontem, hoje é o opressor”.

“Israel, esse David moderno, cresceu e ganhou musculatura, mas perdeu inteligência ao se transfigurar em Golias. E, em vez de jogar pedras nos inimigos, decidiu atirá-las na própria cabeça. O país perdeu a opinião pública internacional, não terá mais como sustentar o imoral bloqueio imposto ao povo palestino na Faixa de Gaza e conseguiu uma proeza ainda maior : o mundo , que até ontem discutia sanções econômicas ao Irã , já considera mais urgente encontrar mecanismos para conter os abusos do Exército Israelense - o mesmo que , numa ação recente , assassinou mais de mil palestinos e destruiu mil casas de outro lado da fronteira”.

Tal situação imposta ao povo palestino, não apenas diante deste covarde e desnecessário ataque a uma embarcação de caráter humanitário e da ausência de qualquer mínima reparação ou reconhecimento do erro por Israel, mas diante de uma série de medidas que, sob o argumento da “guerra ao terror”, vem dizimando indiscriminadamente os palestinos me faz, lamentavelmente, recordar o que fora dito pelo romancista português José Saramago certa ocasião: “Os judeus não merecem mais a compaixão pelo que sofreram no holocausto... esperar que sejam perdoados por qualquer coisa que fizerem em nome do que sofreram me parece ser abusivo" e, ainda, “Os judeus arranharam interminavelmente as suas próprias feridas, para que não deixe de sangrar, para torná-las incuráveis, mostram-nas ao mundo como se fosse uma bandeira”.
Certamente tais opiniões ocorrem em razão da tirania que por lapso de tempo considerável vem se dando, obviamente, sem pretendermos eximir os terroristas do mundo árabe e terroristas outros, pois parece que os encontramos em diversos mundos, da responsabilidade por parte do terror há muito instalado. Temos assim que o macabro se apresenta envolto em diversas bandeiras.

É fato, que, como dizia um sobrevivente do Holocausto, que por seu sofrimento e luta, é digno de toda consideração e respeito merece, por outro prisma, prosperar: “esperança vive quando as pessoas se lembram” Simon Wiesenthal 1908-2005. O Holocausto e os milhares de judeus dizimados na Ucrânia , não devem ser esquecidos, ao contrário, devem ser lembrados como vítimas de um momento terrível da história da humanidade, um momento digno de registro para ser evitado a qualquer custo.
Portanto, qualquer servidão e opressão, seja qual for o povo, não devem ser esquecidas e devem se prestar, no mínimo, como um alerta constante, como no caso da embarcação que pretendia simplesmente levar auxílio básico a um povo oprimido e dizimado, como outrora fora o povo judeu.
Nenhuma atrocidade de um passado recente ou remoto deve se constituir em álibi a atrocidades atuais.

domingo, 6 de junho de 2010

O status intelectual da mulher (por Virginia Woolf)

Em 1920, o romancista Arnold Bennett publicou uma coleção de ensaios, intitulada Our Womem: Chapters on the Sexdisvord , afirmando serem as mulheres intelectualmente inferiores aos homens e que nada mudaria tal situação, obra escrita sob o falso véu do que seria uma observação desinteressada quanto a status intelectual das mulheres e de que o intelecto seria uma especialidade masculina. Sendo tal obra objeto de resenha na revista New Statesman , por Desmond MacCarthy sob o pseudônimo de Falcão Afável.

No início do séc. XX, Otto Weininger , um jovem que pretendera uma incursão nas letras culminando por suicidar-se, publicou um livro a depreciar as mulheres e que as dividia em mãe e cortesã, onde todos os elementos reprováveis eram atribuídos às mulheres e cuja leitura teria levado algumas destas também ao suicídio, talvez por não verem saída para a maldição que pesaria sob as suas existências , apenas pelo fato de terem nascido mulheres.

O que poderia parecer ultrapassado, décadas depois e ainda hoje, por vezes, se apresenta necessário recordar, e não nos esqueçamos que ainda hoje mulheres são grosseiramente objeto de piadas, comentários maldosos , agredidas e mortas , justamente pela condição de terem nascido mulheres estamos na fase do preconceito velado.

Assim, ao iniciar a leitura do Status Intelectual da Mulher, por Virgínia Woolf que há muito me encanta, o encantamento de hábito se transformara em delicioso êxtase.
Virgínia, certamente indignada com tamanhos disparates, escrevera duas respostas, devidamente publicadas, à edição da revista supracitada e de forma brilhante e irônica silenciara o tal Falcão Afável e certamente muitos homens, que de forma pífia, e mulheres, que de forma covarde ou por mero comodismo, davam voz aos que pretendiam ridicularizar a situação das mulheres.

Alguns trechos das respostas de Virgínia ,merecem ser transcritas hoje e sempre a dar início ao presente blogger, que é notadamente sobre Poder,Liberdade,Mulheres... Sobrevivência,enfim.


“Senhor como a maioria das mulheres, eu sou incapaz de suportar a depressão e a perda de respeito próprio que certamente me causaria a leitura da acusação do Sr. Arnold Bennet ou do elogio do Sr. Orlo Williams- se não é ao contrário . Então eu saboreio nas pequenas doses das resenhas . Mas eu não posso engolir sequer a colher-de-chá administrada nas colunas desta revista na última semana pelo Falcão Afável . O fato de as mulheres serem inferiores aos homens em capacidade intelectual, afirma , ' é evidente a qualquer um' . E continua , concordando com a conclusão do Sr. Bennett de que ' nem educação , nem liberdade , em qualquer grau , alterarão sensivelmente este fato . Como então , o Falcão Afável explica o fato que me parece evidente , e eu pensaria que a qualquer outro observador imparcial , de que o século dezessete produziu mais mulheres notáveis do que o século dezesseis , o dezoito mais do que o dezessete , e o dezenove mais que os três anteriores juntos?”

“ O avanço intelectual das mulheres me parece não apenas sensível , mas imenso ; a comparação com os homens de forma alguma me inclina ao suicídio , e os efeitos da educação e da liberdade para esse avanço foram decisivos”

“ Embora as mulheres tenham todas as razões para esperar que o intelecto dos homens esteja diminuindo , seria pouco inteligente anunciar isto como fato , ao menos que se tenham evidências maiores que a Grande Guerra e a possibilidade de paz” .

“ Em conclusão , se o Falcão Afável deseja sinceramente descobrir uma grande poetisa , por que se permite ser iludido com uma possível autoria feminina para Odisséia ? Naturalmente , tenho a pretensão de conhecer a cultura grega tanto quanto o Sr. Bennett e o Falcão Afável , mas me disseram que Safo era uma mulher e que Plutão e Aristóteles a colocavam , junto com Homero”

“ Para explicar a ausência completa não apenas de boas escritoras , mas também de más escritoras , eu não concebo outra razão senão a existência de alguma restrição externa às suas capacidades , uma vez que o Falcão Afável admite que sempre houve mulheres com habilidades de segunda e terceira classes . Por que a não ser que tenham sido proibidas , elas não expressaram seus dons na literatura , na música e na pintura ? O caso de Safo , embora remoto , lança , a meu ver , alguma luz sobre o problema “

Citando J. A. Symonds, respondera ao Falca Afável que diante de Safo insistia quanto a ausência de outros nomes femininos a serem comparados com tantos nomes masculinos na literatura , pintura ..., e que Safo ,dan dos poucos fragmentos existentes quanto as sua obra, seria um nome único à época, obrigando Virgínia a citar Ethek Smyth – compositora e feminista militante :

“ Diversas circunstâncias contribuíram para o desenvolvimento da poesia lírica na Ilha de Lesbos ( onde vivera Safo). Os costumes dos eólicos permitiam ms mobilidade social e liberdade doméstica do que era comum na Grécia . As mulheres eólicas não ficavam confinadas ao harém , como as Jônicas , ou submetidas à disciplina rigorosa das espartanas . Misturavam-se livremente com a sociedade masculina , eram altamente educadas e habituadas a expressar suas opiniões em extensão nunca vista na história – até o presente momento”

“ Não havia nada que impedisse Ethel Smyth de ir a Munique ? não havia nenhuma oposição por parte do seu pai? Ela pensava que tocar, cantar e estudar o tipo de música que as famílias abastadas ofereciam a suas filhas era apropriada para torná-las musicistas? Entretanto , Ethel Smyth nasceu no século dezenove . Não há grandes pintoras diz o Falcão Afável , embora a pintura esteja agora a seu alcance . Está ao alcance das mulheres – se aos a educação dos filhos , ainda, existe dinheiro suficiente para permitir o gasto com tintas e estúdio para as filhas, se não há razões familiares que exijam a presença delas em casa. Caso contrário , elas têm de se frustrar e sofrer um tipo de tortura mais dolorosa acredito que qualquer uma que os homens possam imaginar . E isto em pleno século vinte . Mas o Falcão Afável argumenta , uma mente com grande força criativa triunfaria sobre tais obstáculos . Pode o autor apontar um único dos grandes gênios da história que tenha nascido de povos privados de educação e mantidos em sujeição , como por exemplo , os irlandeses ou os judeus? Parece-me indiscutível que as condições que tornaram possível a existência de Shakespeare são a existência de predecessores na mesma arte , a condição de membro de um grupo onde esta arte é praticada e a máxima liberdade de ação e experiência . Talvez em Lesbos , e nunca mais, estas fossem as condições de vida das mulheres .A seguir o Falcão Afável cita diversos homens que triunfaram sobre a pobreza e a ignorância. Seu primeiro exemplo é Isaac Newton . Newton era filho de um pequeno agricultor ; foi enviado à escola ; e se pôs a trabalhar na fazenda . Um tio clérigo , aconselhou que ao invés de trabalhar no capo fosse ele preparado para a faculdade ; e aos dezenove anos foi enviado para a Faculdade de Trinity em Cambridge . Newton, deve-se dizer , encontrou a mesma oposição que enfrente a filha de um advogado do interior que deseje estudar em Newnham no ano de 1920. Mas o desencorajamento de Newton não recebeu o reforço de textos como os de Bennett, do Sr. Orlo Williams e do Falcão Afável”

“ O fato que penso que concordaremos , é que as mulheres, desde a antiguidade até o presente , geraram toda a população do Universo . Esta ocupação lhes tomou muito tempo e força. Também as colocou em sujeição ao homem e incidentalmente – se é que isto é relevante- incutiu-lhes as qualidades mais amáveis e admiráveis da raça humana “

“ Devo repetir que o fato das mulheres terem progredido ( o que agora o Falcão Afável parece admitir ) demonstra que elas podem progredir ainda mais .Não vejo razão por que se deva colocar limite do progresso feminino no século dezenove e não no século cento e dezenove .Mas não é necessário apenas educação .É preciso que as mulheres tenham liberdade de experimentar , que possam ser diferentes dos homens , sem medo, e que expressem estas diferenças livremente ( pois não concordo com o Falcão Afável que homens e mulheres sejam semelhantes”

“ Um homem ainda tem mais facilidades que as mulheres para tornar seus pontos de vista conhecidos e respeitados . Certamente , não posso duvidar que se estas opiniões prevalecerem no futuro, permaneceremos na condição de semi-civilizados . Ao menos é como defino uma eternidade de dominação por parte de uns e servidão por parte de outros .Porque a degradação de ser escravo só é igualada pela degradação de ser o seu senhor”