domingo, 13 de fevereiro de 2011

As minhas palavras, por elas mesmas…




Desejaria que minhas palavras fossem bailarinas, não a primeira bailarina, mas qualquer uma , solta , sem amarras, a dar piruetas por ai .

Queria,até mesmo,que as minhas palavras-bailarina ,por vezes, tropeçassem e a sincronia fosse imperfeita,pois há beleza na imperfeição, no inacabado, no que pode ser aperfeiçoado e até mesmo modificado.

Queria que se minhas palavras um dia fossem bailarinas também tivessem seu apogeu numa harmonia perfeita, movimentando-se em todos os ritmos, com  jogo de cintura a se adequar a cada nova situação mas sempre dançando sua própria dança , sua própria coreografia.

Mas, minhas palavras ainda não são bailarinas, de primeira ou de segunda, mas se atrevem à vez por outra dar alguns pulinhos por ai.

São palavras atrevidas, estas minhas, falam, mas sabem,mesmo assim às vezes, ouvir o encantamento dos sons e saltitam livres.

Minhas palavras, por vezes, pensam por si próprias e assim movimentam-se e insistem em não atender as minhas orientações,minhas súplicas, meus gritos, sussurros e ao meu silencio ensurdecedor.

Minhas palavras são quase sempre rebeldes, e agrupam-se contra tudo e todos, até contra mim mesma, me colocando em maus lençóis.

Nem sempre as palavras me deixam, as vezes são expulsas por mim, outras abandonam-me , se perdem e não as encontro.

Por vezes gostam as minhas palavras de serem vistas no seu real sentido ,mostrando suas carinhas, cada ruguinha, cada nuance de seus sentimentos, mas , em geral, preferem estar encobertas sob um véu, optam por não se desnudar, cheias de pudores, rancores,valendo-se, na verdade, de uma fantasia , uma máscara de carnaval.

As minhas palavras, que até penso que muitas vezes a mim não pertencem, adoram caminhar aos saltinhos, divagando, indagando , sem respostas.

São uma caixinha de surpresas ,na verdade,muitas vezesuma caixa de Pandora , me chocam, me encantam.

As palavras que me deixam, as que eu expulso,as que permanecem engasgando-me e as que guardo em meu baú empoeirado teriam vida própria .

As "minhas" palavras se encontram ocasional ou deliberadamente, dançam, no compasso ou não, pisam no pé dos seus parceiros, também brigam , escancaram ou se escondem.

Mas em cada encontro, seja como for, minhas palavras se relacionam e em cada frase, uma descoberta, boa ou má ,mas sempre reveladora.

As revelações destes encontros de palavras,nuas e cruas, fantasiadas, por vezes, me surpreendem,mas não costumam me envergonhar,me intimidar.

São palavras de todo tipo, de todo jeito,sem preconceito, corajosas,mas também que se acovardam,recuando num estado de pura sobrevivência.

As palavras são assim , como a gente, como o mundo, repletas de dicotomias, de contradições, vivas, sobrevivendo, sorrindo e chorando.

As frases, os argumentos, sempre pretendem explicar o sentido das palavras , e de "serem mais importantes do que elas".

As palavras, as mais genuínas, não nos presenteiam com certezas, com respostas e definições, mas sim com indagações e reflexões.

Depois de ditas, escritas, sussurradas ,mesmo que o tempo e o vento as levem ,elas marcam seu território,para mim,irremediavelmente.

Não apenas as ações e omissões marcam positiva ou negativamente, as palavras tem força própria, são elementos transformadores.

O que é dito, provoca reações , e por mais " tolas" que possam parecer as palavras , nunca me são indiferentes.

São pontes, ligam e religam, também abismos necessários , mas, apesar disto, devem ser ditas , de qualquer jeito , com qualquer trejeito, com ou sem traquejo.

São palavras irônicas. lúdicas, mostrando o feio e o sujo, de um jeito diferente, um jeito faceiro, vendo o luxo no lixo.

Apesar das fragilidades e vulnerabilidades, as palavras são sempre, SEMPRE poderosas e não devemos subestimá-las jamais.

Assim, pretendo tê-las como aliadas , mas se a revolta vier, que modifiquem a mim, modifiquem o mundo.

Minhas palavras não findam em frases que se fecham em pontos finais, após aquela que parece ser a última, temos as reticências, ou seja, tudo está por vir, inacabado, aguardando...