Um ente de paixão e sacrifício ,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito,
E nem te doas coração sequer!
Sê forte , corajoso, não fraquejes
Na luta , sê em Venus sempre Marte;
Sempre o mundo é vil e inafame e os homens
Se te temem gemer hão de pisar-te!
Se 'as vezes tu fraquejas , pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho
Eles deixam pra sempre maculada;
E gritam então os vis: "olhem, vejam
É aquela a infame! e, a apedrejam
A pobrezita , a triste , a desgraçada!
Ó mulher ! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoideceram
Enquanto a boca ri alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de amor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
( Trocando Olhares- Florbela Espanca-13/03/1916)
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