sábado, 3 de março de 2012

A Mulher

                      
Um ente de paixão e sacrifício ,
De sofrimento cheio, eis a mulher!
Esmaga o coração dentro do peito, 
E nem te doas coração sequer!

Sê forte , corajoso, não fraquejes 
Na luta , sê em Venus sempre  Marte;
Sempre o mundo é vil e inafame  e os homens
Se te temem gemer hão de pisar-te!

Se 'as vezes tu fraquejas , pobrezinho,
Essa brancura ideal de puro arminho 
Eles deixam pra sempre maculada;

E gritam então os vis: "olhem, vejam 
É aquela a infame! e, a  apedrejam
A pobrezita , a triste , a desgraçada!

Ó mulher ! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito 
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosa duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoideceram 
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm 
Sem nunca o confessarem a ninguém 
Doces almas de amor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade 
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento! 

( Trocando Olhares- Florbela Espanca-13/03/1916)




 

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