sábado, 2 de junho de 2012

EM VEZ DE VER TELEVISÃO...PENSANDO PENSAMENTOS...




            Esta frase de Adriana Falcão resume, ludicamente, o que vem a ser um filósofo " é quem , em vez de ver televisão , prefere ficar pensando pensamentos." , mas penso, pensando meus pensamentos, que o sentido de filosofar é tentar explicar para ver e viver melhor, para sermos felizes... cada um tem seu modo de filosofar, mas quase sempre estamos filosofando.

             Os nossos pensamentos sempre se digladiam em torno de indagações e respostas.

         Não raramente, nós mesmos, e todos os outros, tentamos agrilhoar os pensamentos , e não raramente, quando não somos nossos próprios algozes,  nós permitimos que sejam nossos pensamentos encarcerados numa caverna, onde apenas nos é permitido ouvir zumbidos e ver sombras, mas sempre conseguimos escapar , mesmo que por um breve instante e assim podemos pensar pensamentos e escolher respostas, escolher caminhos, ainda que nos desencaminhe... e aí está a nossa  liberdade.

          Temos a tal " mania de explicação" como  se explicando e entendendo pudéssemos viver melhor e felizes , mas retirar o véu das palavras pode ser penoso ,mas também prazeroso, a busca  nos faz sorrir e sofrer,  nos faz ver ,  descobrir, e enxergando  nos ferimos, mas terminamos por sermos diferentes e melhores do que antes de colocarmos nossos conceitos numa mesa embaralhando-os e depois os realinhando, dos ferimentos descobrimos a cura, ou encaramos a nossa própria ineficiência,e tudo isto nos é indispensável.

          Somos aquele cego que ao enxergar sente o impacto , a dor , mas por trás dela , a imensa alegria do ver , do perceber , a possibilidade da busca da felicidade, sempre ela  nos aguardando e fugidia .sempre indo e vindo , nos acenando.

        Assim vamos indagando, filosofando, buscando explicações, inventando, complicando para melhor manipularmos, ou simplificando , mas sempre com esta mania de explicação...

           Sempre que nos indagamos quanto a vida e a morte, quanto as nossas questões mais mundanas e mais íntimas, quanto aos motivos de nossa felicidade e infelicidade , estamos na verdade indagando, buscando, garimpando, descobrindo e encobrindo , estamos filosofando e até mesmo inventando explicações ... Sempre esta necessidade.

        E assim estamos buscando ver, enxergar,estamos , enfim, vivendo , procurando viver melhor e não apenas sobrevivendo, o que, convenhamos, já seria tarefa das mais árduas,e isto se dá  mesmo quando mergulhamos num abismo em busca de alguma suposta verdade ou fugindo dela.

        Me pergunto porque  a filosofia é sempre vista de forma tão distante e surreal, tão aterrorizadora, se ela faz parte do nosso próprio pensar e da nossa busca incessante pela felicidade... Sim , felicidade, aquele pote de ouro, não de tolo, na base do arco-íris que, em geral, apenas encontramos nos sonhos.

       Viver é teleológico, já dizia aquele senhor Aristóteles num de seus melhores momentos, porque ele , como qualquer um de nós , teve os piores, como quando tentou explicar a tal necessidade de escravizarmos uns aos outros.

     Dependemos  sempre do nosso propósito,dos nossos objetivos e por mais que tentemos  nos desviar e nos esconder em outros tantos, sempre o objetivo final da vida será a tal felicidade.

      Mas que esta felicidade não seja confundida meramente com prazer , como pensam e defendem os utilitaristas, onde a dor é relegada  e afastada como algo a ser temido, mas tratemos da felicidade que nos ensina a sentir prazer e dor, cada qual no seu momento, cada qual no seu instante supremo. 

       Assim nós seres humanos,  desumanos, temos que lidar com mais esta estranheza, saibamos lidar com o prazer e a dor, tenhamos o conhecimento de senti-los pelas razões que eles mereçam ser sentidos, portanto alinhemos   dor e prazer , tudo no momento certo , no nosso melhor e pior momento, pelas mais elevadas  razões vivendo-os e aprendendo com eles , caminhando, portanto e não apenas correndo loucamente sem sentirmos a brisa , sem pegarmos atalhos  por entre os pântanos e mangues, sempre deliciosos e reveladores.

      Para a busca desta felicidade , que mais parece água a escorrer por nossos dedos e por nossas faces , por todos os nossos poros , temos que exercitar a busca, em nós mesmos e nossas profundezas sem fim, mas essencialmente com os nossos pares, semelhantes a nós ou nem tanto assim. 

        E não seria a busca de nós, enquanto seres humanos , e procurando fazer jus a esta definição , a busca das virtudes , do aprimoramento , por mais inatingível que isto possa nos parecer... Nós, os tais seres  humanos, não deveríamos ter como caminho para realização do propósito de sermos felizes, a promoção , não da bondade , mas de algo ainda mais elevado, a Justiça, que teria o propósito de dar a cada um o que lhe é devido, diante do princípio da igualdade , mas não deixando de lado que cada um de nós partimos nesta corrida de pontos de largada diversos, e , portanto considerando as desigualdades a nos diferenciar , a nos fazer singulares.

       Assim não devemos apenas nos associar, e não apenas fazermos meras alianças, mas tentarmos fazer das leis  mais do que um instrumento de manipulação dos mais sofisticados e eficazes, mas  sim  de  garantia de vida , e de vida boa, , uma regra de vida  para nos tornarmos não apenas bons, mas justos  e assim a felicidade buscada e possível possa ser enfim distribuída  eqüitativamente.

    É preciso que nos  habituemos a busca da felicidade , praticando, exercitando , tentando, relembrando que "tornar-se virtuoso é como aprender a tocar flauta..." e não há quem aprenda a toca-lá apenas lendo livros, vendo filmes e ouvindo , temos que tocar flautas, praticar as virtudes em busca desta tal felicidade, e assim "tornamo-nos justos praticando ações justas , comedidos praticando ações comedidas  e corajosos praticando..." e felizes também praticando...

     Cultivemos  nossos melhores hábitos, sejamos virtuosos e assim a felicidade baterá em nossa porta , seja como for, com todo o seu prazer e sua dor.

      A nossa melhor ou pior companhia, poderá ser nós mesmos... Mas temos que sair do isolamento, mesmo que estejamos repletos de nossa própria presença ou de " saco cheio" dela  e praticar tudo o que lemos, ouvimos, pensamos , temos que nos  relacionar, temos que conviver , temos que participar , temos que mandar ver , do contrário nossos pensamentos e aprendizados apenas se prestarão a fazer nascer bestas ou deuses , mas não homens, mulheres, seres humanos e quem sabe ... Cada vez menos desumanos. 

                                                 

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