Que os sonhos de uma vida inteira se não realizados, sejam acalentados;
Que os fins não justifiquem os meios;
Que se a dor for inevitável, haja morfina na mesma proporção;
Que a dor, se inevitável, nos deixe mais fortes e resistentes;
"Que o gesto recupere o seu sentido”;
"Que a palavra recupere o seu tom insubstituível";
"Que o silêncio seja ouvido, como uma boa música”;
"Que o cenário não se limite ao decorativo", mas que contribua para o entendimento de um contexto
Que possamos sentir a noite, seus ventos mansos e sua luz sob um véu ,mesmo sem paixão ;
Que não sejamos fatais e não acreditemos na fatalidade a justificar os pesares;
Que tenhamos coragem de nos conhecer e que o temor e o choque com nossos monstros não nos impeça;
Que o medo nos socorra diante de um abismo e nos faça recuar, mas se optarmos por pular, que possamos nos refazer da queda , mais fortes;
Que o passar do tempo pingue gota a gota e nos permita senti-lo em toda a sua inteireza, sem desperdício;
Que possamos olhar, vez por outra para trás para não esquecermos de onde viemos;
Que ao olhar o passado, a nossa história nos dê pistas para onde vamos;
Que não olhemos através, que possamos olhar e enxergar e ainda assim dizer: vale a pena estar aqui!;
Que possamos caminhar por bosques, mesmo que o caminho seja mais longo do que aquele asfalto sem curvas sinuosas, mas sem vida a ser contemplada;
Que tenhamos preparo para a vida cotidiana e sua rotina massacrante e que esta rotina assim não seja;
Que tenhamos coragem de pensar e repensar, mas que vez por outra possamos não pensar e esquecer;
Que nossos dias não sejam "dias de sanatório" e a ansiedade possa nos dar trégua;
Que o desespero não venha e se vier que possamos descrevê-lo, escrevendo, e se assim for, que os outros possam ler;
Que sejamos nós, e a imagem refletida no espelho nos agrade e que na solidão nosso eu possa nos fazer companhia;
Que não tenhamos solidão, principalmente se estivermos com nós mesmos;
Que se a solidão bater a porta de nossa alma, ou alcançar entrar fortuitamente, não nos amedronte a ponto de não nos suportarmos;
Que a opressão dos outros não nos imponha estarmos apenas com nós mesmos, mas que a nossa procura seja espontânea, uma necessidade nossa;
Que não nos percamos de nós mesmos, e se isto acontecer possamos nos achar a beira de um rio, olhando para a nossa imagem refletida;
Que a nossa pior mania seja a do silêncio;
Que ao olharmos pela janela, não tenhamos medo do que vamos ver e que a imagem seja como a mansidão da noite e não choque nossos olhos,
Mas se a imagem vista da janela nos chocar, fazendo-nos simplesmente quebrar, que possamos juntar os cacos do momento e que nem por isto nossa existência esteja despedaçada ;
Que possamos falar e ouvir, mas que não tenhamos tanta necessidade das palavras;
Que não sejamos uma estátua, apenas vista e às vezes admirada , mas , em geral, não compreendida;
Que o mundo interior e exterior não nos amedronte a ponto de não desejarmos conhecê-lo;
Que todo o conhecimento valha a pena,
Que não pretendamos fazer de nós mesmos uma pessoa perfeita, mas que até nossos defeitos nos complete , forme nossa identidade e nos orgulhe;
Que possamos ter liberdade de escolha e que tenhamos força para responder por todas elas;
Que ser livre não seja a nossa pior prisão;
Que a solidão almejada não nos seja insuportável;
Que não pretendamos ser únicos na multidão, mas que possamos nos reconhecer em alguém;
Que possamos ver e ouvir a diferença com tolerância e mais do que isto, nos permitindo rever conceitos e sermos também diferentes;
Que tenhamos mais certezas do que dúvidas, mas se a certeza for dolorosa, que possamos ao menos duvidar;
Que a nossa dúvida não se transforme em desconfiança com tudo e todos a olharmos o mundo com ceticismo, nos transformando em opositores;
Que possamos levar qualquer tipo de vida, e levando, possamos conservar nossa integridade, mas que possamos mudar;
Que possamos evitar o caos, mas se ele vier, que possamos enxergar vida pulsando nele e possibilidade de sairmos revigorados;
Que não esperemos a vida passar e a morte chegar;
Que a morte chegando, que ela nos surpreenda, para que não soframos inutilmente, pois o único sofrimento inútil é o que se dá pela morte ;
Que vez por outra possamos soltar o bicho que existe em nós, e que possamos sempre enjaulá-lo;
Que não empacotemos nossos sentimentos;
Que tenhamos nossa verdade, mas que respeitemos a verdade alheia, e que as verdades possam ser sopesadas, e que nenhuma seja absoluta e inexorável;
Que possamos enxergar caráter em tudo;
Que possamos ao menos uma vez ser crédulos e ingênuos como as crianças;
Que sejamos saudáveis, mas se a nosso corpo adoecer, que a nossa alma não fique doente e se ficar, que possamos curá-la;
Que não pretendamos carregar as dores do mundo;
Que possamos ser sensíveis às dores do mundo e solidários;
Que nossas dores encontrem sensibilidade e solidariedade de pelo menos alguém;
Que possamos nos satisfazer com o mínimo, mas que o máximo bata a nossa porta e possa entrar;
Que não precisemos da Justiça dos homens, muitas vezes falha, cega , esclerosada , desonesta e descomprometida;
Que se precisarmos da Justiça dos homens, que possamos nos deparar ,não só com a Lei,mas com o JUSTO, o honesto, o comprometido com a busca;
Que não nos contentemos com as migalhas permitidas pela Lei, mas possamos buscar o que, de fato, nos cabe, através do senso de Justiça;
Que o direito, seja de fato DIREITO, e não sejamos manipulados por ele, mas agentes transformadores;
Que ao menos um momento possamos crer ser possível subverter a ordem da vida;
Que possamos ousar ;
Que nossas necessidades básicas sejam satisfeitas, e em não sendo que possamos buscá-las, possamos falar, gritar, exigir, e alcançar;
Que em tendo filhos possamos vê-los nascer, crescer, comer, e dormir com dignidade e que jamais estejamos vivos para vê-los morrer e sofrer, mesmo que o inevitável;
Que a gente não tenha "só comida, mas comida , diversão e arte...";
Que possamos ir , mas que tenhamos para onde voltar;
Que sejamos humanos, mas crendo na imortalidade;
Que tenhamos paz e com ela o sossego merecido do guerreiro;
Que possamos ir , mas que tenhamos para onde voltar;
Que sejamos humanos, mas crendo na imortalidade;
Que tenhamos paz e com ela o sossego merecido do guerreiro;
Desejo enfim, o impossível, o inesperado, a vida e não apenas a sobrevida;
Desejo Tudo .
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